23 outubro 2006

Comemorar

Até aos 18 anos, o dia em que festejamos o nosso aniversário é uma loucura, um frenesim, o simbolismo da maturidade, da independência, a carta de condução, o poder afirmar com convicção “olha que já sou um adulto” (ainda que sejam apenas teorias, porque a prática, essa é bem diferente), aos 28 a visão que temos do mundo já é bem mais complexa.
Este ano, muito próxima de saltar para a casa dos 29 (sim mãe, afinal já sou muito crescida!), os motivos para grandes festas são poucos.
Não por o vigésimo nono aniversário significar uma curta e assustadora distância do trigésimo, porque bem feitas as contas, os 30 só chegarão para o ano (um ano é tempo suficiente para mudar uma vida). E nós, os de 1977, seremos sempre menos antigos que o 25 de Abril de 1975, o golpe militar do Chile em 1973, e até mesmo posteriores ás exuberantes e fantásticas criações de Jean Paul Gaultier que este mês comemorou os seus 30 anos de carreira.
Os motivos para o pouco entusiasmo comemorativo surgem num universo mais sentimental. A falta de emprego, que por mais optimistas que sejamos, deixa-nos sempre num cantinho á parte (quem afirmar que o panorama do nosso país está a melhorar a olhos vistos, só pode ser míope e por isso não ter visto correctamente as estatísticas, ou ser alguém com fortes apetências para alucinações que o remetem para os livrinhos das estórias de encantar). Os constantes atrasos provocados pela falta de emprego, como a realização pessoal e profissional estagnadas ou adiadas (os que ainda pensam que a realização pessoal e profissional não caminham lado a lado que se desiludam, pois são tão cúmplices e dependentes como as bananas, as uvas ou as cerejas que nascem sempre em cachos).
Mas este apatia e até antipática comemorativa, justifica-se por si, pela estreia de uma ausência, daquela voz masculina e terna, tão cheia de sabedoria e de vida, que com apenas duas palavras tão simples como: “parabéns neta”, me alegrava o dia como só ele o sabia fazer. Será o primeiro ano que não a vou ouvir, talvez por isso o mais sensível e mais doloroso, terei que deixar a saudação ao cargo da imaginação. Decidi por isso, apagar o dia 24 de Outubro de 2006 da agenda, agindo como se simplesmente este ano, não fizesse anos, assim só em 2007, serei forçada a passar por esta experiência.
Seria mais confortável para todos nós, termos autoridade para adiarmos as nossas tristezas e inseguranças (tal como uma alta patente do exército, a comandar os seus fieis e obedientes soldados).
Vale sempre a pena sonhar…