24 agosto 2009

O Saco das Compras


Já alguma vez viram alguém a espreitar estaticamente para dentro do próprio saco de compras?
Porque o faria? O que procuraria?
Talvez porque por breves instantes a sua humana memória tenha sido substituída pela memória da amorosa mas esquecida Dóri, e se tenha olvidado do que acabara de comprar?
Talvez porque a macro e a micro economia estejam tão pouco simpáticas que, feitas as compras…feitas as contas, e se começa a somar, a dividir, a multiplicar e a subtrair ainda que seja apenas de cabeça, olhando atentamente para as facturas? Sim, porque a maioria dos “tugas” primeiro compra e só depois soma o que gastou…e depois, depois começa a típica lamechice de que o país está mal, de que o governo é chupista, de que o preço das coisas está pela hora da morte, e de que os gajos das petrolíferas são uns gatunos, e mais um sem número de tentativas para culpabilizar outros pela má gestão das respectivas carteiras.
Talvez porque alguma situação incomode, e o interior do saco parece a melhor alternativa para ter um comportamento semelhante às tímidas avestruzes? Uma alternativa bem mais rápida e em conta do que viajar para um destino longínquo, onde ninguém nos conhece. Além de que sempre se evitam os desastres aéreos, que por acaso desde que há aviões que há desastres, mas hoje em dia é que se fala desses assuntos, como se fala de futebol, e está na moda ter medo de andar de avião.
Talvez porque, apenas porque enquanto se olha para dentro do saco das compras, o tempo não passa tão devagar…
Ou talvez porque, haja a imortal esperança de que bem no fundo do saco, esteja aquela resposta interior que tanto procuramos, mas que por incrível que pareça não conseguimos encontrar…

Ah se os sacos falassem…era tudo tão mais claro…