23 outubro 2012

Com medo na bagagem

Talvez seja medo, um medo trapalhão e sem fundamento, mas nem por isso menos válido. Ter medo anestesia-nos os sentidos e impede-nos de viver em plenitude? Creio que sim. Mas não será esse mesmo medo um bem necessário para nos tornar mais prudentes? Se por um lado o receio nos paralisa, por outro faz-nos ter algumas reflexões que sem esse sentimento não seriam consideradas no reino dos possíveis. A bem da verdade, todos trazemos bagagem, com medos, alegrias, expetativas, desilusões, e sonhos. O peso desta bagagem nem sempre é linear, pois oscila em consonância com as experiências vividas, o momento presente e o desejos futuros. À medida que o tempo passa e olhamos para dentro dos outros e de nós mesmos, esse peso diminui, e a bagagem de porão passa à singela qualidade de uma leve mala de mão, sem as adicionais e dispendiosas taxas de aeroporto. Até à travessia em que o medo papão se transforma num medo acolhedor, o melhor é reparti-lo pelas diversas malas, e ainda que incómodas mas precisas, carregar apenas uma de cada vez.