10 março 2008

Desistir

Desisto
"Desisto de ti porque até o amor tem limites, tem um fim anunciado, mesmo quando não acaba.Desisto de ti com a mesma força com que amei e por isso tenho a alma rota, o coração guardado numa caixa, com fotos, cartas e outras coisas ridículas. E aqui estou eu. E é como se fosse invisível esta dor insuportável que me aperta o peito e me fixa o olhar como se estivesse drogada, dopada e incapaz de ser mais do que esta representação de mim mesma.
Desisti de ti e comuniquei-o a todo o meu corpo. Disse à minha pele que esquecesse a tua, o teu perfume afinal nunca existiu e os meus ouvidos nunca reconheceram os teus passos na escada. Mas apenas a minha cabeça compreende perfeitamente esta decisão. O resto de mim foi-se embora e não sei quando voltará, porque leva tempo a habituarmo-nos à tua ausência, a mim e ao meu corpo e à minha alma.
Quanta gente sentirá o mesmo? O amor é sempre igual, mesmo quando é diferente. A urgência do outro, do corpo do outro, da voz e sei lá que mais, tudo é igual em quem ama. Por isso a separação também é idêntica. E neste preciso momento uma boa parte da humanidade tem estes olhos vazios, este amargo na boca e aperto no estômago. É engraçado saber-me acompanhada por desconhecidos. É engraçado e irónico que entre essa multidão não estejas tu..."
Luisa Castel-Branco

2 comentários:

Tânia Pato disse...

Não conhecia .. é um retrato brutalmente realista.
Assim que o li, veio-me imensas coisas à cabeça, coisas que não tenho saudade, mas que fizeram parte da minha vida, mas lembrei-me logo ... incrível.

a hora do chá disse...

Em busca de palavras que transmitissem o que estava a sentir na altura, foi uma enorme surpresa ter encontrado este texto..foi como se estivesse a ver uma fotografia! ;)
Feitas as contas, todos nós temos no albúm de fotos, uma foto semelhante a esta...